terça-feira, 20 de março de 2012

FACES EM MINUTOS

Ellen Rocha 
Érick Espíndola 
Luzia Gonçalves 


O calor era sufocante, apesar do ambiente aberto. Mesas, cadeiras e banquinhos se espalhavam em frente ao balcão envidraçado

Era horário de intervalo, o rol fervilhava, e, em um emaranhado de, cheiros, barulho do liquidificador triturando, o "pi-pi" do micro-ondas, a imagem de uma TV sem som, a qual ninguém dava atenção, vozes e risadas, o vai-e-vem frenético dos atendentes, estudantes e professores, lá vinha ele... 18 anos, magro, chegando a ser franzino, ombros levemente arqueados, braços finos, com cerca de 60 kg distribuídos em 1,73 cm de altura. Seu nome, Wagner.

Jeans claro, camiseta branca, chinelos em couro, que lembrava os chinelos do vovô. Em uma das mãos um saquinho branco de papel, dentro um croissant de presunto e queijo, catchup e maionese. Na outra, um copo que aparentemente estava gelado, porque gotículas de água deixavam o copo suado.

Wagner foi logo explicando se podia conversar e comer ao mesmo tempo, porque seu intervalo de trabalho era o tempo suficiente apenas para fazer um lanche e logo voltar a lida.

Os cabelos pretos e levemente ondulados emolduravam o rosto de olhos castanhos escuros, sobrancelhas pretas e espessas, nariz aquilino, lábios desenhados, dentes brancos e perfeitos que lhe conferiam um ar cativante. A pele morena-dourada dava a impressão de estar constantemente bronzeada.

Desinibido, sem o menor traço de timidez, ele despeja a maionese de forma a se ter a impressão de que ele estava comendo maionese com croissant, em vez de croissant com maionese. Entre uma mordida e outra, sem desperdiçar seu precioso tempo, ele conta sobre seu sonho de ser professor. Sonha com estabilidade, mas, falar sobre coisas pessoais não é seu forte.

Parece gostar de sua confusa solidão, não quer sonhos familiares... Quer trabalhar, quer subir na vida!
Ariano, sem time e religião... Segue apenas o lema que ouviu de um professor do colegial, "Tudo vale a pena, quando a alma não é pequena".

Relembra momentos no sul do País... Parece sentir saudade, talvez, mas que isso, talvez sinta falta de uma fase já vivida.
Timidez não é algo que faz parte de sua personalidade, apenas é de poucas palavras e descreve sua vida entre uma mordida e outra, como se já estivesse acostumado com a vida de entrevistado.

Entre uma resposta e outra, criava diversas caras e bocas, sendo elas, uma para cada tipo de resposta. Quando nervoso, franzia a testa e seu olho direito se fechava como se estivesse dando um olhar 43, mas, ao responder com tranquilidade, abria um sorriso do tipo malandro, meio espontâneo com uma pitada de ironia.

Suas mãos não estavam soando, porém, sempre estava escondendo-as, quem sabe para não transparecer algum detalhe que revelaria o seu íntimo. É possível entender que o trabalho braçal não é algo comum em sua vida, já que suas unhas, por exemplo, não apresentavam sinais, defeitos ou quaisquer marcas que comprovassem o hábito de “trabalhar pesado”.

Não encontramos vaidade. Cabelos despenteados, pele um pouco ressecada que mescla com algumas espinhas na bochecha. O rosto magro também revelava o cansaço, muito bem justificado pela a correria de seu dia. Enquanto observamos, também tentava nos estudar, analisando nosso jeito de falar, olhando para cada um de nós antes de responder, atento para cada troca de olhares ou gestos que nós dávamos.

A firmeza nas respostas era comprovada pelos seus lábios, que não tremiam ou se quer ficavam unidos por muito tempo, já que a cada pergunta, ouvíamos uma resposta rápida, convicta e inteligente.

Comparando suas atitudes durante a entrevista, podemos dizer que ele é siri: por fora tentava transmitir um ser seguro, protegido, sem ter medo algum, mas por dentro, estava escondendo ou disfarçando alguns pensamentos, lembrando um animal acuado, que usa de seus artifícios naturais para se defender.

Talvez as caras e bocas fossem suas defesas, ou apenas um charme para os futuros jornalistas que ali o entrevistava. Em resumo, a combinação das suas reações levou-nos a entender que este era Wagner, obviamente, não revelando tudo o que pensava, mas sendo naturalmente um rapaz cheio de sonhos e pronto para tudo o que a vida tem a proporcionar.

1º LUGAR - PRÊMIO FIEMS DE JORNALISMO 2011





















Seguidores